Estrutura de Atividades: para pais e educadores
O primeiro grande conceito para se trabalhar com Ensino Inclusivo, no que diz respeito ao autismo é o educador ter sempre em mente que:
A ausência de fala ou de comunicação não caracteriza ausência cognitiva
Considere:
- Ensinar, criando as condições favoráveis e necessárias para que toda criança aprenda, é um dever da escola.
- Reclamar de quem sai do padrão comum de aprendizado ou “não aprende”, não adianta. Sempre há o que fazer.
- Quem não aprende, sofre. E na maior parte das vezes, é a próprio estudante quem carrega a culpa. Esta é uma regra geral.
E a pergunta a ser feita diariamente, em cada elaboração de proposta pedagógica feita ao indivíduo com TEA (Transtorno do Espectro Autista) é:
- Qual estratégia posso usar para que esse aluno entenda o que é pedido e adquira tal conhecimento ou habilidade?
Vamos falar de algo inerente ao autismo. Vamos deixar a mente livre um instante…
“Se imagine num país onde todos falam outra língua, que você não faz ideia, ou tem uma sutil percepção do que cada entonação de palavra, ou frase construída significa…
Para não se perder entre tantos sons que escuta e não decifra de imediato, você se orienta por sinalizações, pistas visuais, para compreender melhor cada palavra ou frase que escuta. Trazendo o mínimo de segurança, conforto e tirando de si a sensação de incapacidade em compreender o que ouve, ou lhe pedem, diminuindo assim sua ansiedade e frustração por não ter a certeza se esta sendo assertivo nas solicitações e expectativas ….
E a partir dessas pistas visuais você inicia uma decodificação do que se sente, do que pensa e lhe é solicitado. E então começa a expressar e comunicar isso para os outros… Seu planejamento, sua capacidade de ter ideias, começa a se organizar”
Agora, você consegue compreender melhor como o indivíduo com TEA se sente e o que também o ajuda de forma eficaz.
Isso não significa que ele não compreende o que lhe é solicitado verbalmente. Temos níveis variados dessa compreensão. Ter autismo não o faz um incapaz.
O autismo é um problema que afeta o neurodesenvolvimento e conforme estimulado, se desenvolve e novos impulsos elétricos vão sendo criados. “Como novos caminhos percorridos pelas correntes elétricas de nosso cérebro”.
Nesse sentido o reforço reforço visual é um grande aliado na implantação desse estímulo elétrico, nesse aprendizado, nessa capacidade.
Utilizamos o reforço visual para que o indivíduo com TEA :
- se organize mentalmente na construção de seu raciocínio
- interprete melhor
- memorize o que é dito
- adquira planejamento, um passo a passo para executar uma ação
- compreensão de uma situação
A pessoa com TEA possui de forma nata alteração sensorial. Estes estímulos podem afetar o organismo da pessoa com TEA de forma exagerada ou diminuída, gerando muito prazer ou extrema aversão.
Por vezes as palavras ditas que eles escutam se misturam em seu cérebro com uma porção de outras informações sensoriais que recebem no momento. É necessário um apoio.
“Seus Sensores Perceptivos (Sistema Perceptivos) estão sempre alerta e tudo tem grande importância, a risada do amiguinho ao lado, o barulho da carteira se mexendo, o vento nas folhas da árvore próxima a janela, a buzina do carro lá da avenida, a temperatura extremamente agradável, o aroma do perfume da professora, as cores dos cartazes na parede… E todas essas percepções e sensações o tiram do foco de atenção principal na escola, que é o seu aprendizado pedagógico e socialização, pois tudo interfere em seus sentidos, nele ou nela de forma invasiva: o som, o odor, a temperatura, a luz, o equilíbrio do corpo…”
O educador ciente dessas questões pertinentes e reais, deve criar um caminho visual organizado, ilustrativo, aliado ao verbal. Onde se pede e se interpreta uma coisa de cada vez. Incentivando e aprimorando o LETRADO do aluno.
Com essa atitude, promove-se ao aluno a capacidade de fazer o que lhe é solicitado.
- É necessário ser previsível para essa criança ou adolescente. Se deixar claro exatamente o que se quer, o aluno será capaz de realizar o que se pede.
E aqui vale uma reflexão de extrema importância: Estamos sendo capazes de nos fazer entender para eles? Pense invertido, somos nós que não conseguimos, vamos nos fazer compreender de maneira simples e clara.
Abaixo boas condutas para estruturar sua atividade, adapte de acordo com a idade de seu aluno:
- Bons enunciados. Não peça 2 ou 3 coisas no mesmo exercício, um conceito, por vez. No aprendizado de problemas matemáticos divida as perguntas em I e II.
- Utilize exemplos.
- Cuide para que o padrão que usar em seus exercícios fique claro. Por exemplo: Meu filho recebeu um exercício, bem estruturado e ele foi construído da seguinte forma: tinham 6 desenhos de um ninho, com quantidades distintas de ovos dentro deles, sendo que 2 deles eram um conjunto vazio. O enunciado pedia: “pinte o conjunto vazio”. Ele entendeu o conceito do conjunto vazio, mas ao invés de pintar o conjunto vazio, na intenção de marca-lo, como era o intuito do exercício, ele queria desenhar um ovo dentro do conjunto vazio, e dessa forma ele seguiria o padrão do exercício, mantendo ovos dentro de cada ninho. Aqui fica mais claro, como eles pensam…
- Construa o caminho do pensamento passo a passo, se questione sobre isso: Quantos conceitos estou trabalhando nessa questão? Se for mais de um, os separe e os ordene em seus exercícios.
- Manter a concentração numa atividade pedagógica na sala de aula comum é um desafio a pessoa com TEA, mas esse desafio pode e deve ser superado. Porém a quantidade de energia gasta por esse aluno para lidar e controlar o excesso de estímulos sensoriais, deve ser considerada. Poderíamos comparar por exemplo, a mesma quantidade de energia gasta numa atividade física esportiva. Isso é real. Portanto ao promover a concentração desse aluno e sua interação numa atividade, dê a ele alguns minutos de descanso após finalizar. Você pode promover esse descanso desde o agradando com uma atividade que goste muito, uma simples pausa, ou saída breve da sala de aula, para que ele possa “ouvir o silêncio”, descansar. Cinco a dez minutos são o suficiente. Consulte o familiar para lhe ajudar nessa construção.
- Se seu aluno for jovem, não o infantilize. Seja paciente com esse aluno. Isso é possível.
- A pessoa com TEA nem sempre responderá de prontidão o que você pergunta. Por vezes seu questionamento, sua fala se perderá na pessoa com TEA no processamento da mesma pelo raciocínio. Então ele não responde. Porque enquanto estava elaborando a resposta ele perdeu a conexão com a pergunta. Isso é físico e não é displicência ou preguiça desse aluno. Repita a pergunta quando observar que ele não respondeu após um período de tempo ( 5 segundos a 10 segundos). Olhe para esse aluno, fale novamente de forma paciente, não o pressione. Ele poderá demorar os mesmos 5 segundos ou mais segundos para construir a elaboração da resposta. Na aula que presenciei de Erin Lozott ela nos ensina contando: “five elephants: one elefhant, two elephants, three elephants…”, até chegar a “five elephants”. E as vezes são necessários “ten elephants”.
- Estabeleça a conexão visual com o aluno. É importante que essa conexão aconteça. Isso não é um conceito “psicológico emocional de isolamento”. Falo de estímulo elétrico cerebral. A conexão visual, para quem enxerga e tem autismo é a conexão que deve ser estimulada sempre para aprimorar a atenção e comunicação. Não o obrigue, estimule. Sorria, quando receber o olhar do individuo com TEA. É esforçoso para alguns manter seu globo ocular focado no olhar do outro.
- A pessoa com TEA tem dificuldade em interpretação de texto. Não por não serem capazes de interpretar, mas porque seu pensamento é extremamente concreto. Então coisas “sub-entendidas”, não fazem sentido algum para esse indivíduo. Se quer algo em seu exercício seja objetivo, claro.
- Utilize da múltipla escolha. Essa é uma excelente forma de fazer com que o aluno com TEA reconheça a resposta correta, facilitando o caminho de seu processamento de raciocínio que por vezes se perde em função de suas dificuldades, natas, sensoriais e de planejamento. E sua dificuldade em interpretação.
- Seja parceiro desse aluno no aprendizado. Não o coloque em desafios no estilo “pegadinhas”. Fortaleça o correto, sempre. Ele aprende com esse fortalecimento, e não com a dúvida, o questionamento.
- Nas matérias Matemática, Português, Ciências, Geografia, História, Inglês. Use o contexto da vida diária desse aluno, para inserir o aprendizado que precisa passar para ele. Por exemplo, vamos falar de mapas? Vamos falar do caminho da casa até a escola. Vamos falar de adição e subtração, vamos aprimorar o conceito monetário. Vamos ensinar inglês, vamos falar dos assuntos e personagens de desenhos que esse aluno gosta. Vamos ensinar ciências, vamos falar dos alimentos, animais que ele já conhece. Vamos falar de redação, vamos ensinar esse aluno a recontar o que fez no dia anterior.
Dicas para ajuda-los a se manter na atividade:
- Utilize o Painel de Ações sugeridos em nosso site para a organização do passo a passo de atividades que seu aluno terá. Link: https://autismoprojetointegrar.wordpress.com/desenho-agendas-e-calendarios
- Divida as atividade em passos, 4 por exemplo. Faça uma tabela na folha sulfite, com 5 lacunas, na 5ª lacuna desenhe uma estrela/ um sorriso/ escreva: Muito Bem! Para cada atividade inteira, ou item do exercício que realize, uma lacuna é “ticada”, preenchida, com um círculo, um sinal, por eles ou pelo professor, junto deles. Ao completarem as 4 lacunas, se chega na estrela/congratulação (final). Aqui ele entende o inicio, meio e fim e controla melhor seus estímulos pois tem um objetivo claro e definido a ser cumprido. Se seu aluno for adolescente não o infantilize. Apenas coloque as lacunas para ser ticadas de acordo com o numero de exercícios propostos.
- Acredite no horário de aulas. Antecipar e demonstrar a matéria que ele irá ver é muito importante, o situa, dá segurança do que virá. ajuda no controle de frustrações e inseguranças.
- O apoio gera capacidade. Aqui me refiro, ao apoio visual, verbal, gestual e por vezes tecnológico. O suporte e apoio necessário esta diretamente relacionado com a dificuldade do que se solicita.
Especificidades, Considerações e Reflexões:
- Educador: Inspire-se, adquira conhecimento e não tema. O medo irá fadá-lo ao fracasso com seu aluno com TEA. Tente sempre. Toda conquista é importante. Invista naquilo que deu certo e proponha novos desafios baseado nessa experiência.
- Não recue por um problema de comportamento de seu aluno com autismo. O comportamento na maioria das vezes sinaliza comunicação, algo esta acontecendo e você deve olhar isso com a devida atenção.
- Nem sempre comportamentos estereotipados (repetitivos sem função adequada ao momento) são um problema. As vezes são comportamentos autorregulatórios, para estabilizar as demandas sensoriais. Tenha paciência para ajuda-lo a encontrar uma outra forma de se regular. O aluno não deve se expor. Importante traçar estratégias, solicite a orientação da família nesses casos.
- Encorajar o aluno com TEA ao enfrentamento de suas dificuldades não é simples. E por vezes precisa do engajamento de muitos (colegas de sala, funcionários, coordenação e direção) para que dê certo. Não se acomode, tendo uma conduta expectante na dificuldade do seu aluno, isso é cruel para ambos. Ser professor é conduzir para a experiência, para a vivência, para o saber. A instituição escolar tem um dever social inclusive, lembre-se disso.
- Faça com que o familiar, se aproprie da educação de seu filho, isso não esta na mão da escola apenas. Acredite na parceira: ESCOLA /FAMÍLIA e ESCOLA/FAMÍLIA/ TERAPEUTAS.
Referências:
- Adriana Godoy: minhas reflexões.
- Jaime Zorzi: Guia Prático Para Ajudar Crianças Com Dificuldades de Aprendizagem
- Erin Lozott- Coordenadora do Programa de Educação e Formação Center for Autism and Related Disorders- University of Central Florida.
- Projeto Amplitude (SP).
- COMUNICARE Clínica e Consultoria em Fonoaudiologia.
- http://comportese.com/2014/08/autismo-a-alteracao-sensorial-e-as-estereotipias
- Atitudes Favoráveis ao Ensino: Robert F. Mager.
Revisado em janeiro de 2017. Citar fonte obrigatória na utilização do mesmo.
Abaixo compartilhamos o desenho roteirizado do contexto escolar que fizemos para nosso filho.
Utilize-o com seu aluno, utilize-o com seu filho/filha.
Aqui disponibilizamos duas versões: uma com escrita em cada quadro e outra com numeração e escrita em cada quadro. Verifique a que melhor se aplica para o entendimento da ação realizada.
Clique nas imagens abaixo para acessar os arquivos em alta resolução.
Todos os direitos reservados | Proibida a venda | Distribuição gratuita
Arte: Neimer Gianvechio | Autismo Projeto Integrar
Se seu aluno ou filho, não possui leitura, utilize o desenho abaixo: caso queira, escreva a numeração em cada quadro, a fim de auxilia-lo na sequência.
12 comentários
Mais uma vez estou encantada!
Com certeza será EXTREMAMENTE ÚTIL!
Obrigada pela ajuda.
Bjs e sds.
Obrigada querida!!!
Saudade de todos!
bjs
ADOREI! Muito útil!
Também estou encantada pelas dicas, obrigada!!!
Obrigada Matilde, seja bem Vinda!Esperamos contribuir de forma positiva.
Parabéns pelo material e por estar compartilhando !
Estou adorando este material. Já vou imprimir e plastificar!!! To percebendo que a escola está totalmente despreparada!!!
Olá Hendy, obrigada, esperamos ajudar com nosso material.
Sim, estamos num momento de implantação da Inclusão Escolar. Muito para se fazer e muito também se têm feito.
Juntos, familiares e escola, construiremos um ambiente educacional melhor a todos os alunos.
Bem vindo!
Muito bom adorei tenho um filho autista ainda estou procurando ajuda pra entender melho ….
Bem vinda Marineide. Há muito o que aprender, todo dia encontramos alguém e uma nova experiência para nos ensinar. Escreva para nós quando quiser: integrarprojeto@gmail.com
Estou amando tudo, obrigada por nos ajudar.
Obrigada Maria! Seja bem-vinda!