Diagnóstico Precoce
O processo diagnóstico precisa considerar os ciclos de vida da pessoa com TEA e o momento de seu desenvolvimento, de sua história.
Embora o diagnóstico definitivo de transtorno do espectro do autismo só possa ser firmado após os três anos de idade, a identificação de risco para os TEA pode e deve ser feita precocemente.
A detecção precoce para o risco de TEA é um dever do Estado, pois, em consonância com os princípios da Atenção Básica, contempla a prevenção de agravos, a promoção e a proteção à saúde, propiciando a atenção integral, o que causa impacto na qualidade de vida das pessoas e de suas famílias.
É comum encontrar nos depoimentos de pais de crianças com transtornos do espectro do autismo a lembrança de que eles sempre perceberam que seus filhos, quando bebês, “eram diferentes”: recusavam as interações, sem o contato olho a olho, não respondiam
aos chamados de voz, manifestavam a preferência de ficar sozinhos em vez de ser carregados no colo.
Os dados observados e a análise sistemática dos relatos dos pais de crianças com TEA indicam que 75% a 88% dos casos já apresentavam sinais indicativos da patologia antes
dos 2 (dois) anos e, entre 31% a 55%, antes de 1 (um) ano (YOUNG, BREWER; PATTISON, 2003). Assim, reconhecem-se sinais típicos associados aos TEA antes dos três anos e, se detectados quando do seu surgimento, devem ser cuidados precocemente.
Dito de outro modo, os bebês que se tornaram autistas não iniciaram e tampouco suscitaram nos pais (de forma ativa) a interação pelo olhar, pela voz ou pelo jogo oral primitivo. A criança com TEA foi um bebê que, se veio a responder a algum apelo parental, quando surgiam ocasiões para que isso ocorresse, não tomava a iniciativa de convocar e provocar o interesse e o júbilo das trocas com os adultos próximos (LAZNIK, 1998).
Pelo fato de os sinais apresentarem mais sensibilidade do que especificidade, é oficialmente indicado que o diagnóstico definitivo de TEA seja fechado a partir dos três anos, o que não desfaz o interesse da avaliação e da intervenção o mais precoce possível,
para minimizar o comprometimento global da criança (BURSZTEJN et al., 2007, 2009; SHANTI, 2008; BRATEN, 1988; LOTTER, 1996).
Muitos estudos mostraram uma evolução positiva das crianças com transtorno invasivo do
desenvolvimento (TID) quando uma intervenção precoce foi realizada, e isso não pode mais ser negado (GUTHRIE et al., 2012; ZWAIGEN BAUM et al., 2009; MAESTRO et al., 2001, 2002, 2005; SHANTI, 2008; CRESPIN, 2004).
Observação: é importante que sejam situações que aconteçam de modo frequente, para que os pais respondam o que é mais comum em relação ao comportamento da criança.
Entre parênteses, após as perguntas, vêm as respostas tipicamente obtidas dos pais e/ou
cuidadores de crianças em risco para os TEA.
1. Seu filho tem iniciativa de olhar para seus olhos? Tenta
olhar? (Não)
2. Seu filho tenta chamar sua atenção? (Não)
3. É muito difícil captar a atenção do seu filho? (Sim)
4. Seu filho tenta provocá-lo para ter uma interação com você e lhe divertir? Ele se interessa e tem prazer numa brincadeira com você? (Não)
5. Quando seu bebê se interessa por um objeto e você o guarda, ele olha para você? (Não)
6. Enquanto joga com um brinquedo favorito, ele olha para um brinquedo novo se você o mostra? (Não)
7. Seu filho responde pelo seu nome quando você o chama sem que ele lhe veja? (Não)
8. O seu filho mostra um objeto olhando para seus olhos? (Não)
9. O seu filho se interessa por outras crianças? (Não)
10. O seu filho brinca de faz-de-conta, por exemplo, finge falar ao telefone ou cuida de uma boneca? (Não)
11. O seu filho usa algumas vezes seu dedo indicador para apontar, para pedir alguma coisa ou mostrar interesse por algo? (É diferente de pegar na mão, como se estivesse usando a mão). (Não)
12. Seu filho, quando brinca, demonstra a função usual dos objetos? Ou, em vez disso, coloca-os na boca ou joga-os fora? (Não)
13. O seu filho sempre traz objetos até você para mostrar-lhe alguma coisa? (Não)
14. O seu filho parece sempre hipersensível ao ruído? (Por exemplo, tampa as orelhas. (Sim)
15. Responde com sorriso ao seu rosto ou ao seu sorriso ou mesmo provoca seu sorriso? (Não)
16. O seu filho imita você? (Por exemplo, você faz uma careta e seu filho o imita?) (Não)
17. Seu filho olha para as coisas que você está olhando? (Não)
18. Alguma vez você já se perguntou se seu filho é surdo? (Sim)
19. Será que o seu filho entende o que as pessoas dizem? (Não)
20. A sua criança olha o seu rosto para verificar a sua reação quando confrontado com algo estranho? (Não)
Algumas características, apesar de não específicas para identificação de risco para TEA, também devem ser consideradas e investigadas, seja pela frequência com que ocorrem, seja pela dificuldade de manejo que geram. Por exemplo: perda de competências previamente adquiridas, alterações do sono, ataques de raiva, alterações da função alimentar (seletividade, recusa, regurgitação). As questões e queixas das famílias relativas ao desenvolvimento de seus filhos devem ser sempre escutadas cuidadosamente e valorizadas.
Fonte: Linha de Cuidado Para Pessoas Com TEA e seus Familiares/ SUS